O CAMINHO PARA TERMINAR BEM A CARREIRA MISSIONÁRIA

05-01-2011 09:40

O CAMINHO PARA TERMINAR BEM A CARREIRA MISSIONÁRIA Por Silas Tostes

Publicado pelo Forum | 21/01/2010

 

1. Introdução
O propósito deste texto é definir um caminho para que a carreira missionária termine bem. Como base, tomaremos as palavras que o Senhor disse a Pedro, Tiago e João no monte da transfiguração. Veremos que eles tinham problemas, mas que se tornaram bons apóstolos de Cristo ou bons missionários transculturais, no caso de Pedro e João. Parece-me apropriado levantar essa questão porque muitos missionários bons não terminaram bem as suas carreiras missionárias. Entendo que nós precisamos seguir por um caminho que nos leve a um final feliz em relação à nossa carreira missionária.
Seguirei os seguintes pontos para atingir o meu propósito. Primeiro, mencionarei exemplos de missionários que não terminaram bem as suas carreiras missionárias. A seguir, sugerirei um ciclo, que necessariamente não está sujeito a uma lei infalível, mas que é real e leva missionários à queda. Geralmente, apenas missionários imaturos vivenciam esse ciclo, que, por fim, os destrói. Depois, mostrarei que, apesar das dificuldades humanas, Pedro, Tiago e João souberam encerrar bem as suas carreiras missionárias. Por fim, considerarei que outros personagens bíblicos também souberam terminá-las bem. A ideia é apresentar uma visão clara de um caminho que nos leve a uma conclusão ministerial que sempre glorifique a Deus.

2. Muitos não estão mais na carreira missionária
Ao longo dos anos, muitas pessoas aprovadas foram enviadas ao campo missionário por suas igrejas ou por suas igrejas em parceria com agências missionárias. Infelizmente, porém, entre elas há as que não terminaram bem as suas carreiras missionárias. Analisando casos particulares, discretamente mencionados aqui, observamos que estes se referem a ex-missionários. Anteriormente, eles foram aprovados, bem sustentados e deram frutos no campo, mas, por fim, não terminaram bem as suas carreiras missionárias. Durante um determinado tempo, parece que eles foram tementes a Deus e humildes, porém, em um dado momento, eles iniciaram um processo de afastamento de Deus, dos laços familiares e dos bons princípios ministeriais, o que os levou ao fim trágico de seus ministérios e lares.
• Certo missionário voltou para práticas imorais com pessoas do mesmo sexo, contraiu AIDS e voltou ao Brasil, onde faleceu;
• Certo casal, após ter fundado uma ótima igreja que continua muito ativa em uma parte bem carente de presença evangélica, viu o seu casamento ruir pelo adultério do marido (parece que eles conseguiram salvar o casamento, mas deixaram o campo missionário para engrossar as fileiras de imigrantes em certo país desenvolvido);
• Certo casal voltou bem do campo, mas, anos mais tarde, infelizmente viu o seu casamento ruir quando a esposa passou a ganhar mais do que o marido e se viu no direito de se envolver com outros homens;
• Certo missionário enfrentou tanto estresse com a agência enviadora , que surtou, voltando aos tempos, memórias e comportamentos de seus 12 anos de idade, não reconhecendo nem seus familiares (ele voltou ao normal com a ajuda de um psiquiatra, e acabou imigrando para país mais desenvolvido);
• Certo casal que muito produziu no campo viu o seu casamento ruir e, consequentemente, o seu ministério em função de toda sorte de acusação em relação à possibilidade de o marido ter voltado a sua antiga crise de identidade sexual e de suspeitas de que ele tivesse encontrado parceiros para o seu novo estilo de vida;
• Certo casal passou por uma crise em relação à infidelidade e, por fim, foi para um país desenvolvido como imigrante (eles conseguiram construir uma casa no Brasil e voltaram para cá, mas não têm um ministério missionário há muitos anos).
• Certa missionária retornou ao Brasil, devido às dificuldades de adaptação a nova cultura. Tentou várias outras oportunidades de ministério, mas suas carreira foi abalada. Demorou muito tempo para conseguir uma nova colocação.
• Certo casal entendeu ter ouvido a voz Divina e tomou a decisão de retornar ao Brasil, por terem sentido que este era o tempo de Deus para eles. Contudo, não conseguiram se adaptar a nova realidade denominacional e cultural e acabaram sofrendo muitas conseqüências na família, com falta de apoio, dinheiro e trabalho.

Infelizmente, há muitos outros casos de missionários que também não terminaram bem as suas carreiras missionárias, inclusive missionários estrangeiros em nossas terras. No geral, todos eles foram bons missionários – previamente aprovados, com sustento e com frutos. Em um dado momento, porém, eles se viram em dificuldades e não terminaram bem as suas carreiras missionárias. Infelizmente, os ministérios deles não foram restaurados até o momento. As dificuldades que eles tiveram não apareceram do dia para a noite, normalmente fizeram parte de um processo que se desenvolveu. A soma de todos esses casos não deve passar de 2% da força missionária enviada, mas, mesmo assim, é um alerta para os 98%.

3. Um ciclo que leva à destruição
Analisando tantos casos, pude perceber algumas similaridades de comportamento, um ciclo. O ciclo que sugiro não é uma lei infalível. Em geral, os missionários não passam por esse processo, mas alguns passam. A minha sugestão se pauta na minha experiência e no meu convívio pessoal com a força missionária brasileira, que completaram 26 anos em 2009. O ciclo é um processo de queda que ocorre mais ou menos da maneira descrita a seguir. É claro que os prazos sugeridos variam de pessoa para pessoa.
Normalmente, no curso de preparo missionário, o candidato é humilde. Dá até dó. Ele sonha ser missionário e transformar o mundo, fazendo diferença em algum lugar. Ele ainda não possui experiência transcultural e ainda não aprendeu outra língua. (Alguns missionários talvez precisem aprender duas novas línguas.) Ele não possui todo o sustento que necessita. Nessa fase, ele aprende muito, inclusive a fazer o projeto missionário. Ele também aprende a levantar o seu sustento, apresentando o seu projeto à igreja enviadora ou às igrejas enviadoras, amigos e familiares. No curso de preparo missionário, ele nem sempre sabe para onde irá.
Depois, vem o primeiro ano no campo intermediário. Surgem problemas, dificuldades e choques. Nesse contexto, o missionário garante que de fato não sente nenhum choque cultural, apesar de que ele ainda não desenvolveu estruturas metaculturais (possibilidades de avaliação de sua própria cultura e da cultura alheia) que permitam que ele veja, entenda e explique o choque cultural e a causa do mesmo.
O tempo passa, e o missionário aprende línguas, faz amigos no campo, inicia o ministério e dá alguns frutos. No fim de três ou quatro anos, ele retorna ao Brasil. O perfil dele é outro. Ele estudou missões, aprendeu outras línguas e sabe falar da vida missionária, tanto de suas lutas e conflitos como de suas vitórias. Nessa nova situação, ele costuma ser bem recebido e até admirado. Inicia-se o processo de bajulação do missionário.
Então, outros três ou quatro anos se passam. O missionário passa a ser bem mais respeitado do que na época de aluno do curso de preparo missionário. Depois de sete ou oito anos no campo, começam os convites. Eles são mais ou menos assim: Por que você não deixa a sua agência missionária e passa para a nossa igreja ou para a nossa agência? Nós podemos dar tudo o que você precisa, mas o seu ministério no campo precisa ser da nossa denominação. São ofertas tentadoras. Possivelmente, Deus tem algo melhor mesmo para o missionário. Várias passagens de um ministério para outro costumam dar certo. Infelizmente, porém, alguns dos missionários não discernem a voz de Deus e, após receberem ótimos convites, perdem os antigos mantenedores. No novo contexto, o missionário não sabe lidar com as novas regras e com as políticas denominacionais. Talvez ele se sinta usado para levantamento de fundos, que não foram enviados. Ele vê que certas promessas não se cumprem. Vem, então, a avalanche de conflitos e o estresse altíssimo.
A fase mais aguda do processo de bajulação normalmente ocorre no retorno do missionário ao Brasil após o seu segundo termo de trabalho. É nessa hora que alguns obreiros mais imaturos se deixam levar, não mantendo a humildade e a cordialidade. Por volta dos sete a oito anos no campo, o missionário mais imaturo se torna arrogante, exigente e intolerante. Ele foi tão elogiado e admirado nos últimos anos que sente que possui o direito de exigir e de se impor. Nesse contexto, toda a equipe do escritório da agência missionária é pouca para apoiá-lo, toda a estrutura é pouca para recebê-lo. Enquanto as intransigências surgem apenas no contexto da agência missionária, ainda vai, mas, por fim, as igrejas percebem a atitude do missionário, toleram-no, amam-no e o orientam, mas, um dia, elas se cansam. Essa é a hora em que o missionário, cheio de dedos e exigências, perde o respeito e o sustento, vindo a amargar várias dificuldades. Chamo isso de fase da caixinha de fósforos, pois o missionário, sem razão de ser, pensando ser mais do que realmente é, metaforicamente sobe em uma caixinha de fósforos (sem base) e faz o seu discurso.
Tendo perdido o sustento e o respeito, possivelmente se inicia então uma fase de disciplina do Senhor, que corrige os filhos a quem ama (Hb 12:7-8). A disciplina do Senhor se dá no contexto em que o próprio missionário plantou para colher os seus dissabores.

O ciclo descrito acima ocorre quando o missionário é famoso e tem visibilidade ministerial. Ele tem mais frutos, mais sustento e mais convites, mas, ao mesmo tempo, é imaturo. Quando tem mais visibilidade, ele pode se descuidar da prestação de contas ministerial e do zelar pelo bom trabalho de sua equipe, por sua vida íntima com Deus e por sua família, vindo a se encontrar em uma das situações destruidoras mencionadas acima. É nessa hora de descuido que o missionário fica mais independente. Ele toma decisões sem compartilhá-las com a igreja e com a agência enviadora. Ele pensa que tem tanto fruto e trabalho que orar e se consagrar a Deus pouco vale. Ele pensa que é tão bem-sucedido que pode caminhar sozinho.
Há ainda a fase que acontece por volta dos 12-15 anos de campo, quando o missionário entraria em sua fase mais frutífera no campo, mas que por razões pessoais, familiares, ministeriais, financeiras , entre outras, pensa já ter cumprido seu tempo de campo e começa a buscar novas alternativas. Esta é uma fase muito perigosa, pois se forem feitas escolhas erradas, o missionário que estaria a caminho de completar uma grande carreira, acaba tendo um final não feliz para si mesmo e para sua família. Voltar ao contexto de sua terra natal, seja em termos pessoais, familiares e até ministeriais é algo que precisa ser muito bem preparado, para que possa seguir trabalhando, o que trará um senso de respeito, credibilidade e por conseqüência, um sentido de vida. Nesta fase, corre o risco de não ouvir seus líderes, desenvolvendo um discurso tão convincente ,que fica difícil de ser refutado.
Normalmente se o missionário consegue passar bem por este momento entre os 12-15 anos de campo e decide por permanecer na obra, sua carreira decola , os frutos são duradouros e acaba por escrever uma história bonita. Existem casos, que mudam sim de campo, mas não perdem o foco do ministério para o qual foram chamados.
Somente bons missionários que um dia perderam os seus ministérios transculturais foram citados. Eles eram bons, mas perderam os seus ministérios. Eles tinham frutos, mas terminaram a carreira missionária sem honra. Será que há algo que pode ser feito para reverter esse ciclo? Há sim!

4. Pedro, Tiago e João terminaram bem as suas carreiras missionárias
Sabemos que os apóstolos de Cristo tiveram dificuldades. Estas nos saltam aos olhos em uma breve leitura dos evangelhos, mas consideraremos somente as dificuldades que eles enfrentaram na ocasião da transfiguração de Jesus ou no contexto imediato a esse episódio. Pedro, Tiago e João tiveram problemas, mas eles os venceram. Isso aconteceu porque eles mantiveram como base a palavra divina proferida no monte da transfiguração. Se eles venceram, certamente nós também podemos fazê-lo, mas o caminho proposto por Deus precisa ser trilhado. Pedro, Tiago e João ouviram a Jesus, e nós temos que fazer o mesmo.
Lucas nos informa que Jesus levou os três discípulos para o monte onde ocorreria a transfiguração para orar (Lc 1:28). Quando eles estavam pesados de sono, houve a transfiguração e o diálogo entre Jesus, Moisés e Elias sobre a aproximação da morte de Jesus (Lc 9:30). Quem nunca sentiu sono durante a oração? Naquele contexto, Pedro sugeriu que três tendas fossem construídas (Lc 9:33). Possivelmente, a sugestão de Pedro indique que ele desejava que aquele momento perdurasse até a Festa dos Tabernáculos, que se aproximava. Lucas acrescenta que, ao sugerir que três tendas fossem levantadas, na verdade Pedro não sabia o que dizia (Lc 9:33).
Quantas vezes temos dificuldade para entender a obra de Deus? Quantas vezes falamos sem saber do que falamos? Quantas vezes pensamos mais em nossos interesses – ficar nas três tendas da bênção – do que nas nações sem Deus? Quantas vezes queremos perpetuar o sentimento da presença de Deus em uma eterna sensação celestial na terra sem nos importarmos com os que nunca ouviram da redenção de Deus em Cristo?
A sugestão de Pedro, mesmo em sua ignorância, não deixou de ser egoísta. Pedro foi ignorado pelo trino Deus. Sugestões egoístas são ignoradas por Deus. Ele as deixa sem resposta. Por isso Jesus nada disse a Pedro. Não respondeu a sua colocação. Ao descerem do monte, Jesus advertiu os discípulos a não contar nada a ninguém até que Ele ressurgisse dos mortos (Mc 9:9). Os discípulos guardaram o segredo pedido, mas perguntaram a si mesmos o que seria ressurgir dos mortos (Mc 9:10). Mesmo que Jesus já tivesse explicado tudo sobre a Sua partida, eles ainda não haviam entendido as Suas palavras (Mt 16).
Quantas vezes Deus precisa falar até que nós entendamos o que Ele nos diz? Quantas vezes não entendemos os propósitos de Deus? Os discípulos andaram com Deus, mas não entenderam os Seus caminhos? Não é assim conosco?
Certamente que os três discípulos tiveram as suas dificuldades. Isso sem falar na aparente disputa de poder que havia entre eles para saber quem era o maior no reino de Deus (Mt 18:1) ou na falta de fé deles (Mt 17:20). Mesmo assim, porém, eles terminaram bem as suas carreiras missionárias. Sabemos que Pedro foi para Antioquia da Síria e, depois, para Roma ou para a Babilônia. João foi para Éfeso e, depois, como prisioneiro, foi enviado para a Ilha de Patmos. Tiago também terminou como um consagrado e atuante apóstolo, mesmo que tenha sido executado prematuramente (At 12:2). O que os fez terminar bem a carreira missionária?
Evidentemente, foi a soma de vários fatores que levou os apóstolos a terminar bem as suas carreiras missionárias. Incluo nisso a capacitação espiritual que vem do Espírito Santo (At 1:8), contudo, pergunto: Houve um ponto fundamental por meio do qual os três apóstolos construíram uma carreira missionária de sucesso? Sim, eles trilharam pelo caminho indicado por Deus no monte da transfiguração.
Naquela ocasião, Deus poderia tê-los repreendido, pois Pedro não soube o que disse e os discípulos não haviam entendido as explicações de Jesus acerca de Sua ressurreição. Quando Deus falou para a platéia de três apóstolos, porém, Ele simplesmente disse: “Este é meu filho amado em quem me comprazo; a ele ouvi”.Ouvir o Filho nos leva a terminar bem a nossa carreira missionária. Nada nos preserva mais no caminho para que tenhamos um final feliz em missões do que regularmente ouvir a Jesus. A voz de Deus não só testemunhou a singularidade da divindade de Jesus como também a necessidade que todos os homens têm de ouvir a Ele. Ao ouvir a Deus, nós somos redimidos e encaminhados em uma carreira missionária perseverante e vitoriosa. Não há como terminar bem uma carreira missionária sem Jesus, sem ouvirmos a Sua voz e sem termos uma comunhão íntima e regular com Ele.
Os três apóstolos ouviram a Jesus? Sim. Mesmo que eles tivessem as suas dificuldades e mesmo que nem sempre eles entendessem a Sua linguagem metafórica, eles ouviram a Jesus. Eles O ouviram e continuaram a ouvi-lO. Os discípulos não entenderam o que era o fermento dos fariseus (Mt 16:5-7), não entenderam que Lázaro havia morrido, pois Jesus dissera que ele dormia (Jo 11:11-12) e não entenderam a parábola do semeador, para a qual pediram explicações (Mt 13:10,18), contudo ouviram a Jesus e continuaram a fazê-lo. Então, pela graça de Deus, foi-lhes aberto o entendimento (Lc 24:45). Os discípulos ouviram tanto a Jesus que O entenderam. Eles ouviram a Jesus mesmo quando as Suas palavras foram de repreensão (Mc 16:14).
Nesse contexto, os discípulos terminaram bem as suas carreiras missionárias? Claro que sim. Ao ouvirem a Jesus, eles permaneceram em Jerusalém e foram capacitados pelo Espírito Santo (At 1:8). Depois, eles se recusaram a estar tão ocupados que não pudessem orar e se dedicar à pregação. Diáconos foram eleitos para que os apóstolos tivessem todo o tempo necessário para continuar a ouvir a Jesus pela Palavra (At 6:2). Eles não abandonaram as Escrituras nem a oração, apesar da grande soma de convertidos em Jerusalém. Foi no permanecer ouvindo a Jesus que o idoso João ainda O ouviu falar, revelando-lhe o Apocalipse (Ap 1:1). Foi ouvindo Jesus que Pedro, por sua vez, sabendo que a sua morte se aproximava, permaneceu ativo, encerrando bem a sua carreira missionária. Ele disse: “Pelo que estarei sempre pronto para vos lembrar estas coisas, ainda que as saibais, e estejais confirmados na verdade, que já está convosco. E tendo por justo, enquanto ainda estou neste tabernáculo, despertar-vos com admoestações, sabendo que brevemente hei de deixar este meu tabernáculo, assim como nosso Senhor Jesus Cristo já mo revelou. Mas procurarei diligentemente que também em toda ocasião depois da minha morte tenhais lembrança destas coisas. Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade”(2Pe 1:12-16).
O nosso ouvir a Jesus deve ocorrer segundo os passos dos apóstolos. Eles se dedicaram às Escrituras (At 6:2). Nesse contexto, eles ouviram a voz de Jesus pela iluminação do Espírito Santo [ii]. Dessa forma, ocorreu na vida deles a correção das Escrituras. “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3:16). Sendo assim, não ouvir a Jesus é fazer o caminho inverso de Atos 6:2, ou seja, é se sentir tão importante que se julgue que não é necessário ter tempo com Deus e para Deus. Quando ouve a si mesmo, o missionário se deixa levar por bajulação, o que, por fim, o leva à destruição, que geralmente é precedida pela fase da caixinha de fósforos.
Infelizmente, a chamada obra de Deus inúmeras vezes é somente uma disputa por espaço, verba e posição. Na verdade, a obra de Deus é fazer a vontade de Deus conforme ouvimos o Filho, o caminho para Deus (Jo 14:6). Devemos fazer a vontade de Deus, ouvindo a Jesus, até que completemos a nossa carreira missionária. Jesus disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra” (Jo 4:34). Jesus, Pedro, Tiago e João completaram bem as suas carreiras missionárias. Complete a sua também. Você está ouvindo a Jesus ou está subindo em uma caixinha de fósforos para fazer os seus discursos?

5. Outros personagens bíblicos também terminaram bem as suas carreiras missionárias
É bonito ver Jacó despedindo-se de seus filhos e abençoando-os (Gn 49). De igual modo, é interessante ver Moisés sendo informado de que a sua hora chegara e de que o Senhor mesmo o recolheria. Apesar de que não foi permitido a Moisés entrar na Terra Prometida, ele foi fiel a Deus e esteve com Jesus no monte da transfiguração. Moisés soube a hora da sua morte e estava preparado para a mesma [iii]. Daniel, por sua vez, foi informado de que a palavra profética que ele proferira somente se cumpriria depois de muito tempo, mas completou bem os seus dias e a sua carreira missionária (Dn 12:9). “Tu, porém, vai-te até que chegue o fim; pois descansarás e estarás no teu quinhão ao fim dos dias” (Dn 12:13).
O apóstolo Paulo também terminou bem a sua carreira missionária. Ele não sabia o que escolher – ir para a presença de Deus, o que é bem melhor, ou ficar com os filipenses, entre os quais daria mais frutos, caso saísse da prisão. Ele esperava ser liberto (Fl 1:19), mas sabia que poderia ser executado em Roma (Fl 1:20; 2:17), como de fato foi. Apesar de tudo, ele terminou bem a sua carreira missionária. Antes de morrer, ele disse: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”(2Ts 4:7). E também: “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Mas, se o viver na carne resultar para mim em fruto do meu trabalho, não sei então o que hei de escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fl 1:21-23).
Vários personagens bíblicos souberam andar com Deus e terminar bem as suas carreiras missionárias. É possível terminarmos bem as nossas carreiras missionárias se nos mantivermos em comunhão com Deus, ouvindo a Jesus.

Considerações finais
Constatamos que, infelizmente, muitos bons missionários – bem selecionados, bem sustentados e com frutos ministeriais – não terminam bem as suas carreiras missionárias.
Sugerimos que, em alguns casos, a queda de missionários é precedida por um ciclo de bajulação, que produz arrogância, intolerância e independência (fase da caixinha de fósforos). O missionário, bajulado e envaidecido pelo sucesso ministerial, caminha por uma agenda cheia de sucesso e, então, deixa de ouvir a Deus. Por fim, sobrevêm a ele as tragédias que destroem lares, casamentos e ministérios.
Há também àqueles que não entram na fase do orgulho, mas por algum motivo sentem que precisam de mudar de lugar de trabalho e muitas vezes aí fazem as decisões erradas de suas vidas. Sem compreenderem que neste momento da vida, o mais importante teria sido ouvir a Deus atentamente, deixando de lado suas próprias frustrações, expectativas e explicações.
Vimos que Pedro, Tiago e João terminaram bem as suas carreiras missionárias. Embora tivessem tido dificuldades para ouvir a Jesus, eles O ouviram, até mesmo em Suas repreensões. Eles foram bem-sucedidos no papel de apóstolos de Cristo. No caso de Pedro e João, eles também foram bons missionários transculturais. Antes de morrer, Pedro continuou a ensinar aos outros e o fez até mesmo após a sua morte por meio das palavras que escreveu (2Pe 1:12 -16). João escreveu o livro do Apocalipse antes de morrer.
Também vimos que outros personagens bíblicos, como Jacó, Moisés, Daniel e Paulo, também souberam terminar bem as suas carreiras missionárias.
Consideramos que ouvir a Jesus faz parte de um processo constante de oração e estudo da Palavra e que precisamos fazer isso nem que tenhamos que organizar o nosso tempo para tanto. Os apóstolos elegeram diáconos para que pudessem se dedicar a ouvir a Jesus (At 6:2).
Sendo assim, eu pergunto: Como está o seu ministério? Você já ficou famoso? Você já ficou orgulhoso em função da sua fama? Você já não se importa em chamar pecado de pecado? Você não se importa com os seus conflitos carnais? Você já comprou a sua caixinha de fósforos? Você já alcançou seus 12-15 anos de campo? Começou a sentir que precisa mudar algo? Já está elaborando um belo discurso para explicar, para si mesmo e para os outros, porque precisa sair do campo? Lembre-se, o caminho para terminar bem a sua carreira missionária é ouvir a Jesus. Não podemos ser tão ocupados e famosos de modo que não tenhamos tempo para as Escrituras e para a oração. Ande com Deus. Deixe que Ele conduza os seus passos até que você termine bem a sua carreira missionária.
Ouça seus líderes, seja humilde. Infelizmente, há uma lista de ex-missionários. Eles eram bons e deram frutos, mas terminaram muito mal as suas carreiras missionárias. Lembre-se: “Quem pensa estar em pé, cuide para que não caia” (1Co 10:12).

[i] “Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando pela glória magnífica lhe foi dirigida a seguinte voz: ‘Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo’; e essa voz, dirigida do céu, ouvimo-la nós mesmos, estando com ele no monte santo. E temos ainda mais firme a palavra profética à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma candeia que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça e a estrela da alva surja em vossos corações” (2Pe 1:16-19).
[ii] “Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará” (Jo 16:13-14).
[iii] “Naquele mesmo dia falou o Senhor a Moisés, dizendo: ‘Sobe a este monte de Abarim, ao monte Nebo, que está na terra de Moabe, defronte de Jericó, e vê a terra de Canaã, que eu dou aos filhos de Israel por possessão; e morre no monte a que vais subir, e recolhe-te ao teu povo; assim como Arão, teu irmão, morreu no monte Hor, e se recolheu ao seu povo; porquanto pecastes contra mim no meio dos filhos de Israel, junto às águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim, pois não me santificastes no meio dos filhos de Israel. Pelo que verás a terra diante de ti, porém lá não entrarás, na terra que eu dou aos filhos de Israel’” (Dt 32:48-52).